sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mixed Feelings

Desde pequenina que sempre odiei transportes públicos. Todos. Com 10 anos ía a pé para a escola com autocarros a passar à porta da minha casa de 20 em 20 minutos! Preferia 35 minutos a pé do que 5 minutos de autocarro! Comecei desde cedo a observar uma imensidão de "coisas" que são denominadores comuns em transportes públicos:



- Partilhar um espaço fechado com imensas pessoas;



- Pior, quando nesse mesmo espaço fechado, as pessoas tossem, espirram e bocejam em cima de ti sem pôr a mão à frente da boca!



- A velha que olha para ti com um ar castrador porque ainda não lhe cedeste o lugar e ninguém quer saber que também estás cansada ou que com 20 anos (também) já tens varizes! (agora tenho 31... é melhor nem falar disso!)



- A supeira que vem "atolhada" de sacos de plástico, mais a mala, a sacola, o guarda-chuva e sei lá mais o quê e roça todas essas coisas molhadas e sujas na tua roupa!



- O gajo transpirado que toca aquele braço oleado no teu (arghhhhhhhh)!



- A gaja que leva o almoço ainda quente no saquinho já gasto da GANT (sim... leva o almoço, mas em saco de marca!) e vais toda uma viagem às oito da manhã a cheirar a esparquete à bolonhesa!



Enfim... podería continuar.


Fiquei 10 anos sem meter as minhas singelas "patinhas" num transporte público, mas eis que a anunciada história da crise tocou nos meus calcanhares e há uma semana que voltei a fazer o fatídico trajecto Cascais-Lisboa com autocarro incluido até às Amoreiras. E é incrivel como há coisas que não mudam! Numa só semana já:



- Levei com uma turma de putos (dos 11 aos 14 anos bem rebeldes) que tinha um monitor que usava uma camisa literalmente aberta até ao umbigo, na qual se conseguia ver um peito mal rapado - e mal parido diga-se de passagem - falava com os miúdos aos berros, mascava pastilha elástica de boca aberta e finalmente, usava uma argola na orelha que mais parecia um daqueles aros de boca dos Índios! O rapaz parecia vindo directamente de um "skcetch" dos Malucos do Riso. A sério. Em contra-partida, protegeu os miudos o tempo todo e ainda os impediu de entrarem no autocarro tipo touros na arena, obrigando-os a esperar pela sua vez. Pensei para mim "ora muito bem, mal jeitoso, mas responsável", e como se faz agora no facebook - LIKE!



- Levei com duas gajas a falarem literalmente em cima de mim e uma delas tinha um par de mamas tão tão tão grande que consegui levar com as mamas dela, pelo menos, umas 6 vezes na cabeça até chegar à minha paragem! Escusado será dizer que me levantei bem antes do momento de sair porque já não aguentava mais tamanha falta de noção de espaço! Gajas com mamas muito grandes deviam pagar 2 bilhetes! Aquelas mamas batem em todo o lado e em toda a gente! São invasivas!



- Levei com uma senhora (devia ter os seus 40 e picos) que tinha, certamente, um problema de garganta e que conseguiu fazer o tempo todo de Cascais-Alcântara aquele jeitinho acatarrado da tosse cansada, aquele "qrrrrmmmm qrrrrmmmm" cheio de "nhanha" nojenta de 30 em 30 segundos (sim eu depois comecei a contar) em cima de mim!!!!!!! SOCORRO que me senti capaz de a matar! Esta foi de longe a que mais me irritou! Fiquei louca! Louca! Louca de raiva, nojo, desprezo, mais tudo o que vocês possam imaginar! Eis que quase no fim comenta-me acerca do livro que eu estava a ler (Blink do Malcom Gladwell) e diz-me num sorriso - "Adorei esse livro menina... Muito bom gosto! Espero que esteja a gostar também!" - e eu lá cedi num sorriso de volta rendido e até um pouco envergonhado de quem sente ódio em vez de pena, de alguém que está doente.




Todos os dias tenho seguido a rota. Uma rota que me tem feito reflectir tanto sobre a vida. A minha vida. Aqueles balanços suicidas do início dos 30's. Ganhar e largar preconceitos. Analisar o que já mudou em ti e o que jamais mudará por mais que te esforces. A diferença entre a génese e o superficial. Tudo isso se faz muito mais em paz numa viagem de comboio porque ou tens os teus olhos num livro... ou sobre a janela.



É um mixed feelings.



TmAV